Caminhar em meio à natureza ajuda a recuperar o desgaste mental e melhora a nossa capacidade de atenção, comprova um estudo recém-publicado na Nature, feito por cientistas da Universidade de Utah, nos Estados Unidos.
Muito se especula sobre os benefícios das áreas verdes nesses casos, mas há poucos estudos sobre os mecanismos neurais que promoveriam esse efeito. Para suprir a lacuna, os autores selecionaram 92 voluntários, que foram submetidos a um teste de atenção que exigia muito esforço mental, deixando-os esgotados.
Depois, foram divididos em dois grupos: metade caminhou durante 40 minutos numa área de bosques e os demais num ambiente urbano. Durante o teste, os participantes foram monitorados por meio de exames de eletroencefalograma (EEG), que mapeiam a atividade elétrica em regiões do cérebro.
O objetivo era investigar não só a capacidade de restauração da atenção, mas aspectos como o controle executivo, que envolve os processos de planejamento e gerenciamento de ações voltadas a determinado objetivo.
Ao final da caminhada, todos repetiram o teste e reportaram como se sentiam. Esses dados, aliados aos resultados do EEG, revelaram que a simples caminhada leve, em qualquer ambiente, melhora a atenção e ajuda a recuperar as funções. No entanto, os que andaram em contato com a natureza se saíram melhor nas tarefas de controle executivo e relataram maior recuperação que os demais.
“O estudo sugere que a natureza permitiu que os mecanismos neurais relacionados ao controle executivo descansassem e se recuperassem. Ou seja, essas pessoas conseguiram completar melhor a tarefa após a caminhada”, avalia Eliseth Leão, pesquisadora e docente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. “A ativação da nossa rede de atenção é o que permite direcionar nossa concentração e manter o foco, por isso a importância da sua restauração.”
Segundo os autores, o teste reforça a teoria que descreve os mecanismos pelos quais um ambiente natural beneficia a atenção. Na natureza, a pessoa se afasta de fatores estressantes e fica mais confortável, além de que no ambiente natural a atenção não é dirigida – diferente de olhar para uma tela de celular ou ficar no trânsito, por exemplo.
“A atenção é captada de forma suave por algo que nos atrai pela beleza”, explica Leão. “Assim, a natureza permite que os mecanismos que sustentam nossa atenção dirigida descansem e se recuperem, à medida que percebemos sem esforço o ambiente que nos rodeia.”
Como explica a especialista, o ser humano percebe o mundo por meio dos sentidos. Quem vive em grandes centros está exposto a um bombardeio de estímulos, principalmente visuais e auditivos. “A poluição sonora, por exemplo, está associada a maiores níveis de estresse, agitação e preparação para uma desnecessária ‘luta ou fuga’ [uma reação que ocorre na presença de algo ameaçador]. Alguns estudos indicam inclusive a associação entre a poluição do ar e o desempenho estudantil.”
Isso ocorre porque evolutivamente sons altos sempre representaram e, em muitos casos ainda representam, um perigo (como o urro de um animal ou a explosão de uma bomba). “Nos grandes centros, o acúmulo e a superexposição acabam exercendo um papel semelhante ao despertar uma reação mediada pelos hormônios do estresse”, explica Leão. Isso sem contar a superexposição à tecnologia, que consome atenção e produz desgaste mental.
Faça pausas
Por isso, aconselha a pesquisadora do Einstein, momentos de pausa sempre são necessários e devem fazer parte do cotidiano, mesmo de quem mora em grandes centros urbanos. O estudo demonstra que ambientes naturais e caminhadas leves têm efeitos sobre a fadiga mental e os processos cognitivos.
“Estamos desenvolvendo pesquisas que demonstram, por exemplo, o papel da beleza na restauração não só da fadiga mental, mas também emocional.”
Pesquisas mostram que outras técnicas ajudam igualmente nessa recuperação, promovendo o relaxamento e mudanças nas ondas mentais, como meditação, contemplação de imagens da natureza que promovam emoções positivas e ouvir música.