Puberdade precoce: impactos, causas e o caminho para o tratamento

Redação
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A Puberdade Precoce Central (PPC), uma condição que acelera o desenvolvimento sexual das crianças, tem se mostrado um desafio tanto para a medicina quanto para as famílias envolvidas. Ela ocorre por causa da secreção antecipada de hormônios sexuais, ocasionando alterações estruturais e implicações para a saúde emocional. Uma rápida detecção e intervenção médica pode retardar a progressão da PPC, enquanto o apoio emocional ajuda pacientes e seus cuidadores a navegar pelas complexidades psicossociais que acompanham o diagnóstico.

Entre as consequências físicas, a baixa estatura emerge como uma das mais significativas. A puberdade precoce acelera o crescimento inicialmente, mas também precipita o fechamento das placas de crescimento ósseo, culminando em uma estatura final mais baixa do que seria alcançada naturalmente. Esse impacto, muitas vezes subestimado, pode afetar a autoimagem e a autoestima da criança a longo prazo, gerando ansiedade, depressão e um sentimento de alienação.

O endocrinologista Vinicius Brito explica que sintomas como o desenvolvimento dos seios, surgimento de pelos pubianos ou o aumento do volume testicular são sinais de alerta Foto: Divulgação/Adium

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Pacientes com PPC frequentemente enfrentam desafios psicológicos, fruto da discrepância entre sua maturação física e emocional. Esse desenvolvimento antecipado pode fazê-los sentir-se “diferentes” e deslocados no grupo em que convivem, contribuindo para um sentimento de isolamento.

Além disso, a maturidade física precoce expõe essas crianças a riscos aumentados de bullying e abuso, com meninas particularmente vulneráveis à atenção indesejada e situações de hipersexualização, exacerbando o estresse emocional e a confusão sobre sua identidade.

“A adolescência já é por si só um turbilhão, uma dificuldade de vivenciar muitas questões para se elaborar nessa passagem. Então, uma criança que vive essa puberdade nesse momento vive uma situação bem difícil”, ressalta Sabrina Pani, psicóloga infanto-juvenil.

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Principais causas, sintomas e tratamento

As principais causas da puberdade precoce incluem fatores genéticos, condições médicas específicas – como tumores ou disfunções do sistema nervoso central –, além de fatores ambientais e de estilo de vida.

A adolescência já é por si só um turbilhão, uma criança que vive a puberdade precocemente vive uma situação bem difícil, ressalta a psicóloga Sabrina Pani Foto: Divulgação/Adium

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Uma pesquisa realizada em 2021 pela Universidade de Florença observou um aumento significativo de 188% nos casos durante o primeiro ano da pandemia. Especialistas atribuem esse aumento à obesidade e ao sobrepeso, já que o tecido gorduroso produz leptina, um hormônio que ativa a puberdade. Além disso, o isolamento social, as mudanças nos hábitos alimentares e o sedentarismo durante a pandemia criaram um ambiente propício para essa grande variação no número de casos.

A condição, considerada rara, é ainda mais frequente entre as meninas. Um estudo realizado na Dinamarca constatou que a PPC ocorre em 20 a 23 casos a cada 10 mil meninas, ante cinco casos a cada 10 mil meninos. Enquanto entre elas as causas são desconhecidas, nos meninos, a ocorrência está relacionada a anormalidades neurológicas e, desses, 50% dos casos estão associados a tumores.

Mais do que nunca, um diagnóstico precoce, seguido de uma intervenção rápida, é vital para assegurar um crescimento saudável e atenuar os impactos da PPC. Por esse motivo, é importante estar atento a sinais de puberdade antes dos oito anos nas meninas e dos nove anos nos meninos.

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“Sintomas como o desenvolvimento dos seios, o surgimento de pelos pubianos ou o aumento do volume testicular, além de alterações como odor e pelos axilares, acne e aceleração do crescimento, são alertas”, explica o endocrinologista Vinicius Brito. Segundo o especialista, ao notar tais sinais, a recomendação é buscar sem demora o pediatra ou um especialista em endocrinologia para confirmar o diagnóstico e traçar um plano de tratamento.

O tratamento padrão envolve a administração de medicamentos injetáveis que interrompem a progressão da puberdade precoce central, bloqueando a liberação dos hormônios responsáveis por desencadeá-la. As doses podem ser aplicadas com periodicidade mensal, trimestral ou até semestral. “A opção semestral, com apenas duas aplicações por ano, simplifica enormemente o tratamento para pacientes e responsáveis”, destaca Brito. Essa facilidade é crucial para garantir a adesão ao processo.

Visitas periódicas ao médico e a realização de novos exames para acompanhar a eficácia do tratamento, monitorar o crescimento, verificar se a puberdade está sendo estabilizada ou até regredida também fazem parte do protocolo. Essas alternativas estão acessíveis via Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo que todas as crianças diagnosticadas, independentemente de condições especiais ou síndromes, como a Síndrome de Down, possam receber o cuidado necessário, respeitando suas necessidades individuais.

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Tratamento multidisciplinar

A complexidade de fatores e sintomas da PPC exige uma abordagem multidisciplinar, incorporando o acompanhamento psicológico e, quando necessário, psiquiátrico ao plano de tratamento. A psicóloga enfatiza a importância do suporte psicológico nesse contexto, oferecendo às crianças — e aos seus pais ou cuidadores — as ferramentas para lidar com as transformações em curso. “Compreender profundamente essa fase, interpretar os comportamentos da criança e responder de forma assertiva, fomentando um diálogo aberto, é fundamental. Isso reforça os vínculos e cria um ambiente de segurança”, explica a psicóloga.

Além disso, a interação com profissionais da psicologia empodera os pais no manejo de suas próprias preocupações, preparando a família para enfrentar unida esse desafio. Nesse percurso, informação e acesso a tratamentos adequados são aliados imprescindíveis, assegurando que a jornada pela puberdade precoce seja navegada com compreensão, suporte e cuidado, visando sempre ao bem-estar e ao desenvolvimento harmonioso da criança.

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Referências:

Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Puberdade Precoce Central. – Acesso em 15 de março de 2024, às 10:20 – https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/protocolos/20220308_portaria-conjunta-no-13-pcdt-puberdade-precoce-central-1.pdf

Teilmann G, Pedersen CB, Jensen TK, Skakkebæk NE, Juul A. Prevalence and incidence of precocious pubertal development in Denmark: an epidemiologic study based on national registries. Pediatrics. 2005;116(6):1323–1328. – Acesso em 15 de março de 2024, às 10:26 – https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16322154/

Parent A-S, Teilmann G, Juul A, Skakkebaek NE, Toppari J, Bourguignon J-P. The timing of normal puberty and the age limits of sexual precocity: variations around the world, secular trends, and changes after migration. Endocr Rev. 2003;24(5):668–693. – Acesso em 15 de março de 2024, às 10:39 – https://academic.oup.com/edrv/article/24/5/668/2424459?login=false

Fonte: Externa

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