O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que está acontecendo uma reprecificação sobre qual será a taxa de juros “terminal” (no fim do ciclo) nos Estados Unidos. Como consequência, há uma reprecificação no câmbio em geral. Ele ressaltou que no Brasil seria diferente porque a parte externa está mais forte do que era no passado.
“Mas isso não significa que não vai ter algum tipo de reprecificação”, afirmou em entrevista ao canal de TV americano, CNBC. Ele destacou que o importante é a implicação desse processo no “framework” de política monetária.
Questionado sobre a inflação no Brasil, Campos Neto ressaltou que a convergência está em linha com o esperado, com queda nos preços de alimentos, por exemplo, que registraram alta no início do ano. “Dado o histórico de inflação alta no Brasil, acho que fizemos uma convergência razoável com muito pouco custo para a sociedade.”
Sobre a “última milha” da desinflação, o presidente do BC pontuou que o processo é similar em vários países e está “todo mundo” tentando entender como esse processo acontecerá com o mercado de trabalho apertado. Campos Neto ressaltou que se está passando de um momento de dúvida sobre a última milha para um processo de mais incerteza, e essa incerteza pode significar taxas de juros mais altas por mais tempo. Esse processo deve colocar o foco do debate em outro problema, sobre o fiscal e a sustentabilidade da dívida no mundo. “O fiscal vai se tornar algo que os economistas vão falar mais nos próximos meses”.
Sobre a questão fiscal no Brasil, Campos Neto disse que esse é um tema do Ministério da Fazenda e o que o importante para o BC são as variáveis impactadas. “O que nós sempre dizemos é que precisamos ter harmonia entre a política fiscal e monetária e o problema é que quando a credibilidade na política fiscal é afetada, o preço da política monetária aumenta. Quando tem problema de credibilidade em um lado, você afeta o outro lado”, afirmou.
O presidente do BC ainda ressaltou que o Brasil tem sido uma história fiscal por muito tempo, mas que o governo tem “tentado fortemente endereçar” a questão. “Nós acabamos de ter uma revisão das metas, a questão é como isso afeta as variáveis que são parte do nosso ‘framework’”.
Campos Neto também foi questionado sobre o impacto, no Brasil, de uma potencial mudança na presidência dos Estados Unidos neste ano. Para o presidente do BC, não deve ter muita volatilidade nos mercados. “Talvez não seja muito sábio para um presidente do BC comentar o que vai acontecer na política em outro país, mas eu tento ver como seria o impacto para nós em termos de política monetária, e não acho que vamos ver disrupções no mercado por causa disso”.