Conhecida por ser uma contracepção de emergência, a “pílula do dia seguinte” (PDS) chegou ao Brasil em 1999 com o propósito de evitar gestações não planejadas em mulheres que tiveram relações sexuais desprotegidas, enfrentaram falhas em outros métodos contraceptivos (como ruptura de preservativos ou esquecimento de anticoncepcionais) ou foram vítimas de violência sexual.
Segundo Silvana Chedid, ginecologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, a PDS é um método seguro e com raros efeitos colaterais se utilizado corretamente. Assim como o anticoncepcional diário, seu objetivo é bloquear a ovulação. No entanto, a diferença reside na dose de hormônios presentes nesse medicamento. “Enquanto a PDS requer uma dose maior para interromper a ovulação, o anticoncepcional diário realiza essa tarefa com doses menores e de forma contínua ao longo do ciclo”, explica Silvana.
Vendida em farmácias sem necessidade de receita e disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS), a pílula do dia seguinte pode ter eficácia superior a 90% dependendo do momento em que for tomada. Apesar disso, sua administração requer atenção. Afinal, como todo medicamento, o uso de forma inadequada pode acarretar danos à saúde ou até mesmo comprometer o efeito do comprimido.
Um exemplo disso é o uso frequente da PDS, ou pior ainda, a substituição do anticoncepcional diário e do preservativo por ela. Afinal, é crucial se lembrar da prevenção contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), já que os preservativos são a melhor forma de proteção.
Abaixo, tire dúvidas cruciais sobre a PDS e entenda o que é mito em relação a esse medicamento.
Quando a pílula do dia seguinte deve ser tomada?
De acordo com estudo publicado pelo The Lancet, a pílula do dia seguinte apresenta boa eficácia principalmente quando administrada nas primeiras 24 horas depois da relação sexual desprotegida.
Segundo a análise, que contou com a participação de 1.955 mulheres, a eficácia do medicamento funciona da seguinte forma:
- 99,5% de eficácia se usado nas primeiras 12 horas após a relação desprotegida;
- 95% entre 13 e 24 horas;
- 85% quando consumido depois de 25 a 48 horas;
- 58%, depois de 49 a 72 horas.
Ainda de acordo Carolina de Souza, ginecologista e obstetra da Maternidade São Luiz Star e Hospital São Luiz Itaim, da Rede D’Or, o medicamento pode ser usado em até cinco dias, mas, neste caso, a eficácia diminui significativamente.
O que pode “cortar” o efeito do medicamento?
Segundo Carolina, alguns medicamentos indicados para convulsão e o uso de rifampicina (utilizada no tratamento da tuberculose) podem interferir na eficácia da medicação.
Além disso, Silvana complementa que episódios de vômito em até seis horas após a ingestão do medicamento também podem colocar a eficácia em risco. “Nesse caso, o ideal é ingerir uma nova dose”, orienta a ginecologista.
Quais os possíveis efeitos colaterais?
Apesar de raros, efeitos adversos podem acontecer. A ginecologista Milena Bastos Brito, membro da Comissão de Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), cita alguns deles:
- Náusea
- Vômito
- Tontura
- Fadiga
- Cefaleia
- Sensibilidade mamária
- Dor abdominal
- Atraso menstrual
Em relação ao atraso menstrual, Milena observa que 13% das mulheres experimentam um atraso superior a sete dias, enquanto 15% têm um atraso de três a sete dias ou uma menstruação adiantada, e 57% experimentam o retorno da menstruação dentro de três dias após a data esperada.
É permitido tomar o medicamento com frequência?
Não, a pílula do dia seguinte deve ser tomada apenas em casos emergenciais. Isso porque, conforme explica Carolina, o uso rotineiro desse medicamento pode aumentar os riscos de efeitos colaterais, além de elevar a probabilidade de falhas.
Outro ponto também a se considerar é a questão da eficácia variar muito dependendo do momento em que o medicamento é tomado. Às vezes, por uma inconveniência, como não encontrar uma farmácia próxima, o consumo da PDS pode acontecer tardiamente, aumentando os riscos de gravidez.
Considerando esses fatores, optar por outros métodos de contracepção, como anticoncepcional regular ou DIU, pode ser melhor. Além disso, vale reforçar a importância dos preservativos, independentemente do uso de anticoncepcional comum, da PDS ou até mesmo de dispositivo intrauterino. Afinal, essa é a melhor forma de evitar as IST’s.
Se eu já uso anticoncepcional regularmente, posso recorrer à pílula do dia seguinte?
É frequente que algumas mulheres experimentem insegurança e sintam a necessidade de “reforçar a proteção”. No entanto, se já estão utilizando regularmente anticoncepcionais, ou até mesmo um DIU, recorrer à pílula do dia seguinte não é necessário.
Naturalmente, a situação muda caso haja algum deslize no uso do anticoncepcional ou se surgir algum problema com o DIU.
Essa combinação não é recomendada devido à alta dose hormonal presente na pílula do dia seguinte, o que pode sobrecarregar o corpo quando usada em conjunto com outros métodos contraceptivos. Isso pode aumentar as chances de efeitos adversos, como vômitos, náuseas e até mesmo sangramento vaginal.
A pílula do dia seguinte é abortiva?
Segundo Carolina, esse é o principal mito relacionado à PDS. Isso porque o contraceptivo perde sua função quando é utilizado por uma mulher que já está grávida.
“A pílula impede a ovulação ou a retarda, portanto, não há encontro do espermatozoide com o óvulo. Logo, não ocorre a fundação e formação do embrião. Por isso, é errado dizer que ela provocaria um aborto”, explica a ginecologista.