O deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP) protocolou, nesta segunda-feira (25), um pedido para que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) seja convidado a explicar à Câmara dos Deputados sua ida à embaixada da Hungria, em Brasília.
Segundo o jornal “The New York Times”, a estadia de Bolsonaro ocorreu após ele ter sido alvo de operação da Polícia Federal (PF) sobre suposta tentativa de golpe de Estado. O ex-presidente passou duas noites na embaixada, entre os dias 12 e 14 de fevereiro.
Alvo de investigações criminais, Bolsonaro não poderia ser preso estando numa embaixada estrangeira, uma vez que a área está legalmente fora do alcance das autoridades nacionais.
Para Chinaglia, o ocorrido é um “fato absolutamente inusitado”. O requerimento foi apresentando na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. A próxima reunião do colegiado está marcada para a próxima quarta-feira (27). O item ainda não consta na pauta da comissão.
“Não se tem notícias de nada parecido em tempos normais. Então, evidentemente não se tratou de mera visita de cortesia. Ou de uma simples conversa com o embaixador”, disse.
Segundo o deputado, a ida do ex-presidente à embaixada suscita “questionamentos óbvios”, como a “possibilidade de que Bolsonaro tenha intentado buscar refúgio em território húngaro na eventualidade da decretação de sua prisão”.
“É imperioso, para a democracia do Brasil e para a justiça, que esse episódio preocupante seja devidamente esclarecido”, completou Chinaglia.
Vídeos das câmeras de segurança da embaixada obtidos pelo jornal norte-americano mostram Bolsonaro acompanhado de dois seguranças sendo recebido pelo embaixador húngaro, Miklós Halmai.
Segundo o “The New York Times”, a estadia no local sugere que Bolsonaro estava tentando “alavancar a sua amizade com um colega líder de extrema direita, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban”.
Durante uma visita à Hungria, em 2022, Bolsonaro chamou Orbán de seu “irmão”.
Em dezembro do ano passado, Bolsonaro e o primeiro-ministro húngaro se reuniram em Buenos Aires na posse do novo presidente Argentina, Javier Milei. Lá, Orbán chamou Bolsonaro de “herói”.
Após a revelação sobre a estadia de Bolsonaro na embaixada, a PF anunciou que investigará o caso. O Palácio do Itamaraty chamou o embaixador húngaro para conversas.
Halmai se reuniu com secretária de Europa e América do Norte, Maria Luísa Escorel. O encontro durou 20 minutos.
De acordo com a analista da CNN Basília Rodrigues, o embaixador relatou ao Itamaraty que hospedou Bolsonaro para tratar de interesses em comum entre Brasil e Hungria.
A explicação incomodou o Ministério das Relações Exteriores, que alertou o embaixador não ser este o canal oficial de interlocução entre os dois países.
Maria Luísa Escorel teria deixado claro durante o encontro que conversas sobre as relações entre os dois países devem ser realizadas com integrantes do atual governo.
Em nota, Jair Bolsonaro disse que ficou hospedado na embaixada a convite “para manter contatos com autoridades do país amigo”.
“Quaisquer outras interpretações que extrapolem as informações aqui repassadas se constituem em evidente obra ficcional, sem relação com a realidade dos fatos e são, na prática, mais um rol de fake news”, informou.