Lessa diz que receberia lotes irregulares dos irmãos Brazão para matar Marielle | Política

Redação
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O ex-policial militar Ronnie Lessa, preso por ter matado a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, disse em delação premiada à Polícia Federal que receberia lotes da família Brazão como recompensa para cometer o crime. Neste domingo (24), a PF prendeu os irmãos Domingo Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, e o Chiquinho Brazão (União-RJ), deputado federal.

Marielle e Anderson foram mortos a tiros na noite de 14 de março de 2018, quando tiveram o carro alvejado por tiros no bairro do Estácio, zona central do Rio. No ano seguinte, Lessa e o também ex-PM Élcio Queiroz foram presos por serem os executores do crime. Ambos firmaram acordo de colaboração com os investigadores para identificar os mandantes do assassinato.

Na delação de Lessa, o ex-PM afirmou que o crime foi intermediado pelo policial militar reformado Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé. Ele era, segundo a investigação, amigo de longa data de Chiquinho Brazão – ambos compartilhavam tinham como hobby a criação de passarinhos.

Segundo Lessa, Macalé o procurou no segundo de semestre de 2017 para oferecer, a pedido dos irmãos Brazão, a proposta de matar Marielle.

‘De antemão Macalé revelou a Lessa qual seria a contrapartida para a realização da execução: ambos ‘ganhariam’ um loteamento a ser levantado nas imediações da Estrada Comandante Luís Souto, Tanque, Rio de Janeiro”, diz o relatório da PF.

Lessa informou à Polícia Federal que os lotes eram duas grandes extensões de terra não ocupadas próximas da Estrada Comandante Luís Souto e da Estrada da Chácara, no bairro da Praça Seca, em Jacarepaguá, contínuas à Vila Valqueire e à Comunidade da Chacrinha.

O espaço também ficava próximo a um haras da família Brazão e a um estabelecimento de criação de passarinho onde Lessa conheceu os dois irmãos presos. Segundo o ex-PM, a relação com Domingos e Chiquinho Brazão começou em 1999, ao frequentar o criadouro de passarinhos junto com Macalé.

Embora Lessa não tenha como hobby a atividade de passarinheiro, ele conta que frequentava o local para “beber e jogar sinuca”.

“O colaborador detalha que conhecia pessoalmente os irmãos Brazão, de modo a esmiuçar fatos longínquos que remontam ao início da relação, aproximadamente no início dos anos 2000”, diz o relatório da PF, que completa: “Circundando essa relação, sempre se fez presente a figura de Edmilson Macalé, apontado por Ronnie e Élcio como intermediador da avença fatal que vitimou Marielle e Anderson.”

Em outro trecho do documento, a Polícia Federal explica que Macalé sempre próximo da família Brazão. O policial militar foi, inclusive, citado no relatório final da CPI das Milícias, feita pela Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), como integrante de um grupo paramilitar que tinha influência política de Domingos Brazão.

O documento foi feito em 2008 e, embora Macalé seja citado nominalmente no relatório da CPI, ele nunca foi expulso da Polícia Militar. O PM reformado foi executado a tiros em novembro de 2021, em Bangu, bairro da Zona Oeste do Rio. A Polícia Civil investigou o caso na época, mas ainda não chegou a uma conclusão sobre o crime.

“Quem mantinha uma próxima relação com o Clã Brazão era Macalé, o que converge, inclusive, para a necessidade de sua intermediação do negócio entre os mandantes e o sicário”, diz o documento.

Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, acusados da morte de Marielle e Anderson — Foto: Fotomontagem

Fonte: Externa

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