O IPCA-15 de 0,36% em março, divulgado hoje, pode ser considerado neutro quando avaliada sua capacidade de alterar a política monetária do Banco Central. O comportamento dos preços no mês deu argumentos tanto para quem ainda vê riscos na desaceleração da inflação como para quem observa melhoras, ao menos na comparação mensal.
Os preços dos serviços, por exemplo, trouxeram boas notícias no curto prazo, mas os alertas em medidas de mais longo prazo continuam acesos, dizem economistas.
Gustavo Sung, economista chefe da Suno Research, por exemplo, cita que houve desaceleração dos núcleos de inflação, tanto na comparação mensal quanto nos últimos 12 meses. E sustenta que o índice de difusão caiu pelo segundo mês consecutivo.
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Mas ele também lembra que alguns sinais de alertas estão sobre os preços de serviços, que seguem pressionados. “Apesar da desaceleração na variação mensal, os preços de serviços subjacentes e intensivos em mão de obra aceleraram nos últimos 12 meses e na média móvel de três meses anualizada e ajustada sazonalmente”, destaca.
Além disso, houve a alta de 0,91% no grupo Alimentação e Bebidas, que trouxe contribuição sobre de 0,19 ponto percentual sobre o índice cheio. “Como temos observado desde o início de ano, o clima mais adverso com altas temperaturas e excesso de chuvas vem impactando negativamente a produção e colheita de alimentos, pressionando os preços dos alimentos”, explica.
Ele lembra que, na Ata do Copom divulgada esta manhã, a autoridade monetária mostrou preocupação com a evolução dos preços de serviços diante de um mercado de trabalho apertado, com reajustes salariais acima da meta inflação.
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Por outro lado, a ata ressaltou que a perspectiva no curto prazo é de arrefecimento das projeções para os preços dos alimentos e bens industriais deve seguir em uma trajetória benigna.
Para Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, o IPCA-15 veio ligeiramente acima das expectativas e reforçou a mensagem da ata da reunião divulgada mais cedo. “A inflação segue desacelerando em diversas métricas, mas ainda tem alguns componentes que requerem mais cuidado, sobretudo aqueles que são persistentes”, explica.
Segundo sua análise, a inflação de serviços ainda não opera em valores condizentes com os objetivos do BC e os núcleos caminham no sentido da meta de forma bastante lenta. “Até que esse processo se consolide, os dados justificam a necessidade do BC ser cauteloso, que lida também com uma economia ainda aquecida, com dados de atividade resilientes e um forte mercado de trabalho”, avalia.
Sinal de alerta
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, também acredita que a inflação de serviços subjacentes, categoria que exclui os itens mais voláteis e é a mais olhada pelo Banco Central, segue sendo um obstáculo para a convergência da inflação para a meta.
Ela destaca que o dado da inflação de serviços subjacentes mostrou alta de 0,40% no mês, com 5,2% em 12 meses, enquanto o mercado esperava um aumento de 0,33% em março.
“O número acima das expectativas acende um sinal de alerta para a tendência da inflação. Enquanto os preços dos bens industriais já apresentam até queda, a inflação de serviços segue resiliente, rodando em patamar elevado, pressionada pelo mercado de trabalho aquecido, que faz os salários crescerem acima da produtividade”, explica.
Nicolas Borsoi, economista chefe da Nova Futura Investimentos, também alerta que, na média de três meses anualizada, os serviços subjacentes aceleraram para 5,8% em março, enquanto a variação dos industriais praticamente zerou e, nos alimentos, o indicador acelerou para 5,4%.
“Apesar da melhora da média dos núcleos na margem, a média de três meses também piorou, atingindo 3,6%, máxima em cinco meses”, detalha.
Já Leonardo Costa, economista da ASA Investments, observa que os serviços subjacentes vieram um pouco mais elevados, por conta de alimentação fora do domicílio. Por outro lado, ele também analisa que o núcleo de bens veio bastante abaixo das projeções, com destaque para artigos de vestuário e de residência.
“Serviços seguem registrando taxas mensais elevadas. Contudo, março ficou abaixo de janeiro e fevereiro. parcialmente explicado pelas promoções de cinema na segunda metade de fevereiro”, afirma, lembrando que segue a preocupação com os itens sensíveis à mão de obra.
Passagem aérea decepciona
Rafael Costa, do time de estratégia macro da BGC Liquidez, vê alguns detalhes “não muito bons” no IPCA-15 de março. “A deflação de passagens aéreas foi de 9% no mês e nossa projeção era de deflação de 20%”, compara.
Sobre os detalhes “mais favoráveis”, ele destaca que os preços industriais registraram deflação e as inflações de serviços subjacentes e da média dos núcleos não vieram muito acima das projeções.
“Ficamos desapontados com o recuo da inflação de alimentação, gostaríamos de ter observado uma diminuição mais expressiva nesse conjunto de preços. Além disso, tivemos surpresas altistas difundidas em quase todos os principais grupos do IPCA. Nesse primeiro olhar do número como um todo, não achamos que foi um resultado tão favorável”, afirma Costa.
Ao analisar o comportamento dos grandes grupos e de alguns itens específicos, Carla Argenta, economista chefe da CM Capital, afirma que, em termos de política monetária, o resultado de hoje pode ser considerado positivo se analisado sob a perspectiva da busca pela retomada da estabilidade de preços.
“Os preços administrados registraram inflação de 0,70% no mês e de 7,29% anuais. A maior parte da inflação se deve exclusivamente aos combustíveis automotivos, especialmente à gasolina. Os demais itens, por motivos sazonais ou por conta da inércia inflacionária menor, contribuem com inflação baixa para o período”, compara.
Já os preços livres, lembra, apresentaram inflação de 0,24% (no mês) e de 3,11% (ano contra ano), desacelerando fortemente frente o resultado anterior, que havia sido de 0,88% mensais. “Esse grupo é o grande destaque no campo da política monetária, uma vez que abarca o conjunto de bens e serviços que sofre efeito acentuados da taxa de juros”, explica.
Sobre os serviços, Carla comenta que a queda nos preços de passagens aéreas e a normalização dos preços de serviços pautados parcialmente pela ociosidade e pela inércia inflacionária, como é o caso de serviços médicos e dentários e de reparos, contribuíram para o forte arrefecimento do grupo.
André Cordeiro, economista sênior do Banco Inter, destaca que a média dos núcleos recuou pela primeira vez em quatro meses, saindo de 0,57% em fevereiro para 0,23% em março. “A inflação de serviços, que se mostra um ponto de atenção do Copom, veio bastante comportada, variando apenas 0,07%, sofrendo grande influência da queda nas passagens áreas”, afirma.