Doença celíaca: especialista de Harvard destaca 4 mitos sobre a doença

Redação
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A doença celíaca é um distúrbio digestivo e imunológico que pode impedir o corpo de absorver os nutrientes necessários. “A concepção e a conscientização sobre a doença celíaca evoluíram nas últimas décadas, mas ainda há aspectos que continuam pouco compreendidos”, diz Ciaran Kelly, diretor médico do Centro para Celíacos do Beth Israel Deaconess Medical Center e professor de medicina na Harvard Medical School.

Talvez não seja de se surpreender que as concepções errôneas sejam muito difundidas entre o público em geral. Um exemplo? Muitas pessoas acham que todos os portadores de doença celíaca sofrem de dor abdominal, inchaço ou diarreia. Mas, na verdade, muitos adultos recém-diagnosticados com essa intolerância hereditária ao glúten não apresentam esses sintomas.

Além disso, o glúten – a proteína pegajosa encontrada em grãos como trigo, cevada e centeio – pode causar desconforto gastrointestinal e outros sintomas em pessoas que não têm doença celíaca. A seguir, veja quatro mitos e fatos sobre a doença celíaca e problemas digestivos relacionados.

Alimentos feitos com trigo, cevada e centeio têm glúten, proteína que está por trás da doença celíaca. Foto: monticellllo/Adobe Stock

Mito 1: A doença celíaca geralmente é diagnosticada em uma idade jovem

Não exatamente. Embora a doença celíaca possa se desenvolver a qualquer momento após a primeira exposição do bebê ao glúten, ela na maioria das vezes é diagnosticada muito mais tarde na vida. De acordo com a Associação Nacional de Celíacos, a idade média do diagnóstico é entre 46 e 56 anos. Cerca de 25% das pessoas são diagnosticadas após os 60 anos.

A doença celíaca é um pouco mais comum em mulheres e entre pessoas com outras doenças autoimunes, como diabetes tipo 1, tireoidite de Hashimoto (uma causa comum do hipotireoidismo) e dermatite herpetiforme (uma doença rara marcada por erupções cutâneas com coceira e bolhas).

“Não sabemos por que algumas pessoas passam de suscetíveis a realmente ter a doença celíaca”, diz Kelly. A teoria predominante é que algum tipo de estresse físico ou emocional – como uma infecção viral, uma cirurgia ou a ansiedade causada por um evento estressante na vida – pode “ligar o interruptor” e fazer com que a doença apareça, diz ele.

“Cada vez mais pessoas estão sendo diagnosticadas na meia-idade e em idade mais avançada, muitas vezes depois de terem sido diagnosticadas com doenças como anemia ou osteoporose causadas por deficiências de nutrientes”, diz Kelly.

Mito 2: A doença celíaca afeta apenas o intestino

Quando as pessoas têm doença celíaca, a ingestão de glúten desencadeia um ataque do sistema imunológico que pode danificar o revestimento do intestino delgado. Um intestino delgado saudável é revestido por projeções que parecem dedos, chamadas vilosidades, que absorvem os nutrientes. Na doença celíaca, o sistema imunológico ataca as vilosidades, fazendo com que elas se achatem e fiquem inflamadas – e, portanto, incapazes de absorver adequadamente os nutrientes.

Embora possam ocorrer problemas gastrointestinais, eles nem sempre aparecem. Na verdade, a doença celíaca pode apresentar muitos sintomas diferentes nos sistemas nervoso, endócrino e esquelético. Alguns exemplos são névoa cerebral, alterações nos períodos menstruais ou dores musculares e articulares.

Mito 3: Doença celíaca e intolerância ao glúten

Se você se sente mal depois de comer glúten, provavelmente tem doença celíaca, certo? Na verdade, talvez não seja o caso. Algumas pessoas têm sensibilidade não celíaca ao glúten (também chamada de intolerância ao glúten), que pode causar sintomas digestivos desconfortáveis após a ingestão de glúten. Mas a intolerância ao glúten é diferente da doença celíaca.

  • A doença celíaca é diagnosticada com exames de sangue que procuram anticorpos específicos. Se esses anticorpos estiverem presentes, o diagnóstico definitivo requer uma biópsia intestinal para procurar sinais de danos que caracterizam a doença.
  • A sensibilidade não celíaca ao glúten não desencadeia anticorpos nem causa danos intestinais. No entanto, algumas pessoas com esse problema dizem que também apresentam névoa cerebral, dificuldade de concentração, dores musculares e fadiga após a ingestão de alimentos que contêm glúten.

“A sensibilidade não celíaca ao glúten parece ser um fenômeno real, mas não está bem definida”, explica Kelly. Não está claro se as pessoas que sofrem desse fenômeno são intolerantes ao glúten ou a alguma outra coisa nos alimentos que contêm glúten.

  • Uma possibilidade são as moléculas semelhantes ao açúcar conhecidas como FODMAP (sigla em inglês para oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis). Podem ocorrer gases e inchaço quando as bactérias intestinais se alimentam dessas moléculas, que são encontradas em muitos alimentos, inclusive no trigo.
  • Outra possibilidade é uma alergia ao trigo, que pode causar sintomas como inchaço, coceira ou irritação na boca e na garganta após a ingestão de trigo. Entre outros sintomas se encontram erupção cutânea, nariz entupido e dor de cabeça, além de cãibras, náuseas e vômitos. Algumas pessoas podem desenvolver uma reação alérgica com risco de morte conhecida como anafilaxia.

Mito 4: Uma dieta sem glúten sempre alivia os sintomas e sinais da doença celíaca

O único tratamento para a doença celíaca – adotar uma dieta que evite todos os alimentos que contenham glúten – nem sempre ajuda. Esse problema é conhecido como doença celíaca não responsiva.

“Cerca de 20% das pessoas com doença celíaca apresentam sintomas contínuos, apesar de seus melhores esforços para manter uma dieta sem glúten”, informa Kelly. Outras apresentam sinais e sintomas intermitentes, sobretudo quando são expostas sem querer ao glúten. As exposições acidentais muitas vezes acontecem quando as pessoas comem alimentos que dizem não ter glúten, mas têm. A contaminação cruzada com alimentos que contêm glúten é outra via possível.

As possíveis soluções para a doença celíaca não responsiva estão sendo estudadas. Três abordagens promissoras são:

  • Enzimas que decompõem o glúten, que as pessoas poderiam tomar junto com alimentos que contêm glúten. “É um conceito semelhante ao das pílulas de lactase para pessoas com intolerância à lactose, para ajudá-las a digerir produtos lácteos”, descreve Kelly.
  • Diminuição da resposta imunológica ao glúten por meio da inibição de uma enzima chamada transglutaminase tecidual, que deixa o glúten mais potente como antígeno.
  • Reprogramação da resposta imunológica para evitar que o corpo reaja ao glúten.

Este conteúdo, independentemente da data, não deve ser usado como um substituto para a orientação médica direta de seu médico ou outro profissional qualificado. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Fonte: Externa

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