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A fabricação de semicondutores, os famosos chips, há décadas é algo complexo e bem disputado entre empresas do setor. Mas, nos últimos meses, tornou-se uma guerra também entre governos.
Os chips são peças fundamentais em qualquer circuito de computação, com muitos de seus componentes raros de se obter, o que faz com que sua fabricação se concentre em poucas grandes empresas.
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Logo, há uma dependência mundial por esse punhado de empresas, ainda mais após o início da pandemia de Covid-19. A coisa só piorou com as recentes disputas geopolíticas pelos componentes entre EUA e China após os estadunidenses proibirem exportações dos chips para os chineses.
Sendo assim, é de se pensar: será que essa disputa mundial pelos componentes é uma espécie de nova guerra armamentista? E por que ela é tão ferrenha a ponto de causar atritos entre dois países economicamente poderosos?
A Bloomberg elaborou algumas explicações sobre o tema. Confira a seguir:
Guerra pelos chips e sua motivação
- Um componente essencial para cada “pedaço” da computação mundial é o silício;
- Boa parte dessa tecnologia vem dos EUA;
- A China é o maior mercado de componentes eletrônicos e almeja fabricar mais chips dentre os que utiliza;
- Isso preocupa os EUA, que não querem que a China cresça nesse setor e também considera o país asiático uma ameaça à segurança nacional;
- Por sua vez, Pequim (capital da China) já investiu bilhões para construir sua própria indústria de semicondutores e diminuir sua dependência dos EUA, ainda mais em momento no qual o país está minando as exportações asiáticas;
- Soma-se isso que Europa e EUA estão juntando grandes somas de dinheiro para retomar a produção física de chips e depender menos da Ásia Oriental.
Importância dos semicondutores
- Os chips são o que processam e nos entregam “mastigados” os complexos dados necessários para nosso dia-a-dia;
- Eles são feitos de materiais depositados em discos de silício, podendo desempenhar diversas funções;
- Por exemplo, chips de memória, que armazenam dados e chegam ao consumidor final; chips lógicos, que executam programas e são uma espécie de cérebro (como as CPUs, ou processadores), são mais complexos e mais caros;
- Há chips que regulam a ação de baterias, ainda, o toque de um botão em carros automatizados, e por aí vai. Ou seja, todo dispositivo eletrônico usa um chip, seja ele mais simples, ou mais complexo.
Abastecimento
Sua fabricação é cada vez mais exclusiva, visto que uma fábrica chega a custar mais de US$ 20 bilhões (R$ 100,51 bilhões, em conversão direta), levam anos para serem construídas e, para gerar lucro, precisam funcionar 24×7 ininterruptamente e a todo vapor.
Dessa forma, hoje em dia, apenas três empresas têm plenas condições de fabricar chips da forma que se espera: Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC), de Taiwan, Samsung (Coreia do Sul) e Intel (EUA).
A TSMC e a Samsung atuam na fundição, fornecendo fabricação terceirizada para todo o mundo, como Nvidia, Amazon, Microsoft, etc., dependendo da melhor produção, geralmente localizada em Taiwan.
A Intel tinha o hábito de fabricar chips para uso próprio, mas mudou seu foco, tentando competir com TSMC e Samsung nos negócios de fabricação por contrato.
Mais abaixo, temos várias fabricantes dos chips analógicos, como a Texas Instruments e a STMicroeletronics NV, líderes no setor. Os componentes fabricados por elas controlam o pressionamento de botões e convertem energia nos dispositivos.
Esse setor é o que a China quer conquistar cada vez mais, investindo pesadamente para ter uma fatia de mercado e fabricação cada vez maior.
Guerra geopolítica
Conforme a tecnologia de produção dos semicondutores em outros países vem diminuindo, a indústria já dependente dos EUA está cada vez maior.
As regras mais rígidas de exportação impostas pelos EUA em 2023 existem, pois, o país quer impedir que a China possa desenvolver capacidades que Washington pensa ser potenciais armas militares, como supercomputadores e avanços na inteligência artificial (IA).
Em outubro, os EUA aumentaram as restrições e foram seguidos por Japão e Holanda, cujas leis estavam para entrar em vigor este ano.
Líderes tecnológicos da China, inclusive a Huawei, entraram na “lista de entidades”, cujos fornecedores estadunidenses de chips precisam de autorização prévia do governo para vender componentes para tais empresas. Essa medida tem o mesmo fim: evitar que os chineses alcancem avanços gigantescos em supercomputação e IA.
Só que o país asiático está tentando contornar a situação. Primeiro com a Huawei, que anunciou o smartphone Mate 60 Pro, que possui o novíssimo chip Kirin 9000s, fabricado pela Semiconductor Manufacturing International Corp. (SMIC), de Xangai (China), possuindo tecnologia de sete nanômetros, mais avançada do que as regras dos EUA permitem.
Os políticos dos EUA passaram a entender que precisam ir além de apenas conter o avanço tecnológico chinês e criaram a Lei de Chips e Ciência, em 2022. Ela fornecerá cerca de US$ 50 bilhões (R$ 251,28 bilhões) advindos de Washington para apoiar a produção dos chips localmente e alavancar a contratação da mão-de-obra necessária. TMSC, Samsung e Intel, inclusive, já anunciaram planos para construir novas fábricas nos EUA.
A Europa também se juntou à corrida, com os países da União Europeia (UE) firmando acordo, em novembro passado, para impulsionar sua própria produção de semicondutores. O valor a ser desembolsado será de 43 bilhões de euros (R$ 231,18 bilhões).
Fora desse espaço, o Japão também se mexeu e destinou 4 bilhões de ienes (R$ 132,42 milhões) federais para revitalizar o setor, esperando que os gastos (incluindo do setor privado) cheguem a 10 bilhões de ienes (R$ 331,07 milhões), com expectativas de aumentar as vendas de chips japoneses até 2030.
E Taiwan, onde se encaixa na indústria dos chips?
Taiwan começou a se consolidar como ator dominante (e fundamental), no setor, muito graças a decisão governamental ocorrida nos anos 1970 para promover sua indústria eletrônica.
A TSMC basicamente criou sozinha o modelo de negócios de fundição, ou seja, construindo chips para outras corporações. Quando o custo das fábricas cresceu demais, outros dependentes dos chips começaram a depender da TSMC.
Um exemplo é a Apple, que foi uma das responsáveis por dar a liderança à taiwanesa, com grande demanda de semicondutores. A TSMC passou a Intel em receita em 2022, inclusive. Para combinar suas escala e competências levaria anos e custaria uma quantia enorme.
A política, porém, fez a disputa ir além de dinheiro, e os EUA indicam que continuarão a restringir mais e mais o acesso da China aos seus chips, fabricados nas fundições de Taiwan. O problema é que a ilha é, há muito, reivindicada como território pelos chineses, localizada há apenas 160 km da costa, chegando a ameaçar invadir o país para impedir sua dependência formal.