O embaixador André Corrêa do Lago, secretário do clima, energia e meio-ambiente do ministério das Relações Exteriores, afirmou nesta quarta-feira (11) que a principal agenda brasileira na COP30, que será realizada em Belém, no Pará, contempla a publicação de novas contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) e a discussão sobre financiamento climático.
Corrêa do Lago caracterizou as COPs como os encontros internacionais mais importantes feitos atualmente. Segundo Corrêa do Lago, as conferências se tornaram fóruns de debates não só sobre o clima, mas também econômicos e políticos.
“Não há exagero em dizer que a COP se tornou a mais importante reunião do mundo nos últimos anos. As decisões são sobre mudança do clima, mas as soluções para mudança do clima são econômicas, políticas e geopolíticas. Por isso que a COP desperta tanto interesse”, disse durante o seminário “De Baku a Belém: o futuro climático em debate nas COPs”, organizado pelos jornais Valor e O Globo.
O embaixador aponta que as conferências do clima começaram a ganhar importância à medida que os desastres climáticos passaram a acontecer com mais frequência e que a comunidade internacional entendeu que os países em desenvolvimento não tinham recursos financeiro para crescerem de forma limpa.
“Isso tornou [a COP] uma negociação econômica, política e cada vez mais está se tornando uma negociação geopolítica”, completou.
Fazendo um balanço da COP de Baku, Corrêa do Lago afirmou que foi “profundamente decepcionante” que países desenvolvidos tenham conseguido relativizar o papel deles no financiamento para conter as mudanças climáticas. Ele também reconheceu que houve uma “grande decepção” sobre o resultado da conferência.
Os US$ 300 bilhões anuais para financiar o enfrentamento às mudanças climáticas, anunciados na COP 29, são considerados insuficientes por países em desenvolvimento.
O embaixador, porém, fez um contraponto de que houve também avanços no encontro do Azerbaijão, como o reconhecimento de que será necessário ao menos US$ 1,3 trilhão até 2030 para os países em desenvolvimento financiarem o enfrentamento às mudanças climáticas. O valor da meta anual de financiamento climático por países ricos também aumentou de US$ 100 bilhões para US$ 300 bilhões.
Corrêa do Lago ressaltou ainda que era fundamental que a COP 29 não terminasse sem uma decisão sobre financiamento climático após a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. O presidente ameaça abandonar novamente o Acordo de Paris como fez no seu primeiro mandato (2017 a 2021).
“[A decisão] realmente foi insatisfatória, mas era muito mais importante ter uma decisão se não você paralisava tudo e transmitia ao mundo uma sensação de incapacidade da COP no mundo em que o poder e a força das COPs se reduz naturalmente por causa da eleição do presidente Trump que já disse muito claramente as reticências que ele tem sobre o Acordo de Paris”, afirmou.
Segundo o embaixador, a COP 30 tem o desafio de criar um “mapa do caminho” para completar a diferença entre os US$ 300 bilhões aprovados em Baku e o US$ 1,3 trilhão necessário para enfrentar as mudanças climáticas.
“Vamos fazer isso junto do ministério da Fazenda, do Banco Central, do Itamaraty, do ministério do Meio Ambiente e demais ministérios para assegurar que o Brasil tenha liderança na negociação”, disse.
Para Corrêa do Lago, o Brasil tomou uma decisão “corajosa” de levar a COP para a Amazônia e mostrar para o mundo seu principal problema ambiental: o desmatamento da floresta. “Nas negociações todo mundo é especialista nas emissões dos outros. Ninguém fala das suas próprias emissões. O Brasil faz exatamente o contrário ao convidar o mundo para vir onde estão as suas maiores emissões.”