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Aplaudo a iniciativa deste leitor por identificar a causa do seu estresse e buscar uma forma de resolver a questão. À medida que cada um de nós absorve e toma consciência sobre o que estamos vivendo, somos capazes de investigar o que de fato essa situação nos desperta, podendo assim investigar e articular os sentimentos e as estratégias de enfrentamento.
Quando estamos estressados, é difícil visualizar algo além da pressão e da exaustão. Enxergamos a pilha de demandas, sentimos a pressão dos prazos, entendemos cada pedido como cobrança. A corda só aperta. Chegamos a nos questionar como é que o gestor não vê a situação em que estamos ou a que ele nos colocou. Mas já parou para pensar como a falta de comunicação pode afetar a perspectiva dele?
É importante lembrar que conduzir conversas difíceis é uma das habilidades mais valiosas que existe. Sabemos também que a comunicação é uma ferramenta que oferece vários benefícios: alinhamento de expectativas, melhora na qualidade das relações, aumento da capacidade de resolver conflitos de forma mais construtiva e crescimento da validação de que o seu ponto de vista também importa para o outro. Em contrapartida, quando negligenciarmos a construção dessa ponte, ressentimentos, distanciamentos e falta de confiança podem surgir.
Entenda: comunicação não é sinônimo de reclamação. O encontro com o gestor não precisa ser uma “queixa”, isto é, a demonstração do número de projetos em mãos, bem como a dificuldade para definir prioridade. É a oportunidade de resgatar uma narrativa a partir do que foi acordado entre líder e liderado no momento da contratação, explorar as visões de ambos sobre “onde nos perdemos”, o que pode ter acontecido no meio do caminho e, sobretudo, a possibilidade de ajustes de rota para o alcance dos resultados da área e melhor equilíbrio.
Lembre-se: cláusulas de contratos foram feitas para serem renegociadas – e não para serem esquecidas no fundo da gaveta. A repactuação de acordos também pode ser uma outra ferramenta potente de negociação. Isso quer dizer que abrir esse canal de diálogo com o gestor pode ser a chance de rever a forma de trabalho e de entregar os resultados que vocês têm em comum para a área. Pode, também, ser o estopim para a (re)construção de uma nova relação entre líder e liderado, pautada pela proximidade e pela confiança.
Adam Grant, professor da Wharton School, costuma dizer que “relacionamentos ficam estagnados no silêncio. A franqueza abre a porta para o crescimento.” De que outra forma as ideias podem fluir? De que outra forma os vínculos podem se fortalecer?
Uma pesquisa feita pela Universidade de Chicago e publicada no “Jornal de Psicologia Experimental”, da Associação Americana de Psicologia, mostra que as pessoas subestimam as reações dos outros diante de um conflito. Esperam reações negativas e enviesadas em vez de vislumbrar a oportunidade de melhorar a qualidade dos relacionamentos, além de buscar soluções.
Nós nos preparamos para conversas difíceis nos recordando da nossa história – de quem somos, do nosso potencial e de tudo que já agregamos a um time, projeto ou empresa. Monte um panorama das demandas – com prazos, avanços e soluções possíveis – e calibre a sua expectativa em relação ao que o seu líder pode te oferecer. O temido “confronto” pode servir como convite para a inovação e para uma cultura mais positiva dentro da organização.
Mariana Clark é psicóloga, especialista em saúde mental, perdas e luto no contexto organizacional e escolar.
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Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não a do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.