O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira (3) que o seu governo precisa “ouvir mais” a sociedade em vez de falar. Além disso, Lula defendeu que sua gestão precisa priorizar a maioria dos brasileiros que necessitam de algum tipo de suporte do Estado. A afirmação foi feita num momento em que o governo Lula vê sua aprovação cair em pesquisas de opinião.
“Eu não poderia deixar de participar desse encontro porque vivemos um instante na história desse país no qual precisamos conversar muito. Precisamos que prevaleça a verdade e não a mentira. Precisamos que prevaleça a solidariedade e não o individualismo. O governo não pode tudo, precisa ter mais ouvido do que boca. O governo precisa prestar atenção à realidade das pessoas”, disse.
Lula comparou a situação dos ricos com os pobres do Brasil. Na avaliação dele, os banqueiros do país se posicionam contra um Estado forte, mas, ao mesmo tempo, exigem que o governo coloque milhões em recursos à disposição deles.
“Os banqueiros não precisam do Estado, mas exigem que o Estado [brasileiro] faça superávit [primário] e coloquem milhões à disposição dele. Quem precisa do Estado é o povo trabalhador, que paga 27,5% [de Imposto de Renda]. O rico paga muito pouco imposto neste país. Eu não posso perder de vista que, dos 203 milhões de brasileiros, tem uma maioria que precisa do Estado, uma maioria que precisa de transporte coletivo, de casa para morar. São esses que precisam ser priorizados, são esses que vou priorizar”, defendeu.
A citação ao mercado financeiro ocorre num momento em que agentes financeiros têm criticado uma possível alteração da meta fiscal. Apesar disso, os ministros da ala econômica já admitem que a questão da meta está, sim, nas mesas de negociação do governo.
Durante a conferência, Lula também enalteceu o programa conhecido como Pé-de-Meia, política de incentivo educacional que funciona como uma poupança para promover a permanência e a conclusão escolar de estudantes matriculados no ensino médio público.
O programa prevê o pagamento de R$ 200 mensais, que podem ser sacados a qualquer momento, mais um depósito de R$ 1 mil ao fim de cada ano concluído — esse valor só poderá ser retirado após a conclusão do ensino médio. Ao total, somando as dez parcelas, os incentivos anuais, e R$ 200 pela participação do Enem, os alunos recebem R$ 9,2 mil.
“Hoje, nós sabemos que 480 mil desistem do Ensino Médio porque têm que trabalhar. Então nós criamos o Pé-de-Meia e a gente vai dar R$ 200 por mês e mais R$ 1000 depois que o estudante passar de ano. Significa que, quando acabar o ensino médio, ele pode ter R$ 9 mil para começar uma vida mais digna”, explicou o presidente.
Em seguida, Lula admitiu que a intenção do governo era incluir um número maior de estudantes no programa, mas teve de criar uma “linha de corte”. “Esse programa está atendendo, hoje, 2,8 milhões de pessoas. Mas a gente tem de ter uma linha de corte, não podemos dar para todo mundo. Mesmo colocando mais um milhão de crianças, ficam 3 milhões de adolescentes que ficam sem receber”, disse.
Por fim, Lula voltou a citar a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, que tem afetado os residentes na Faixa de Gaza. Ao mencionar o assunto, o presidente pediu uma homenagem do público às crianças que morreram no conflito.
“Não podemos perder o direito de nos indignar; quando isso acontece, significa que algo está errado no nosso comportamento”, concluiu.
A Conferência Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes (12ª CNDCA), é o principal espaço para discutir e propor política ligadas aos direitos da criança e do adolescente e se conecta a um conjunto de mais de 70 programas, ações e iniciativas do governo federal desenvolvidas com o objetivo de ampliar o acesso de crianças, jovens a adolescentes a seus direitos básicos.
Durante o evento, o público presente entoou coro para que o governo promova uma reforma no chamado “novo ensino médio“, projeto ligado à gestão do ex-presidente Michel Temer.