“É hora de modificar o ‘forward guidance’”, defende o economista-chefe do Citi Brasil, Leonardo Porto, ao se referir à indicação que o Banco Central tem feito, a cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), de fará dois novos cortes na Selic. “Do jeito que está, se for mantido, vai criar uma inconsistência, diante de um conjunto de informações que, na margem, piorou”, diz Porto. No momento, o Citi está entre as casas com uma visão mais “hawkish” que o consenso e projeta que a Selic terminará o ciclo em 10%.
Entre os argumentos usados pelo economista para defender uma mudança no “guidance”, ele lembra que o BC foi surpreendido em 0,47 ponto percentual com os dados de inflação de janeiro e fevereiro, o que pode resultar em uma alta nas projeções do Copom. O Citi, inclusive, acredita que a estimativa da autoridade monetária para a inflação deste ano de subir de 3,5% para 3,6%. “E isso já é um indicativo de que a inflação veio acima do que ele imaginava”, diz.
Porto nota, ainda, que o Copom coloca a inflação de serviços mais resiliente como um dos componentes do balanço de riscos e avalia que o erro na projeção do BC para o IPCA dos dois primeiros meses do ano “provavelmente foi ligado à inflação de serviços”.
E outro ponto é o fato de que, se mantiver o “guidance” como está, pode haver uma reprecificação no mercado nos juros curtos, ao ter em vista que, nas opções digitais, a probabilidade de uma redução de 0,25 ponto em junho já está em 40%. “Se ele mantiver o ‘guidance’, o mercado irá olhar para a comunicação e entender que o BC está disposto a reduzir mais os juros e a curva tende a cair, em um momento em que a postura deveria ser mais cautelosa.”
“Por isso esperamos que ele modifique. O que eu acho mais razoável é que o BC tenha que enfraquecer o compromisso de que irá cortar os juros em 0,5 ponto nas próximas duas reuniões. O ritmo de cortes pode ser avaliado com dados que serão divulgados a posteriori. É possível se comprometer com cortes adicionais, mas não com o ritmo de 0,5 ponto. O BC precisa aumentar os graus de liberdade para as próximas reuniões”, avalia o economista do Citi.