Brasil produz sua primeira caneta de adrenalina, tratamento para pacientes com alergia grave

Redação
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Pesquisadores brasileiros desenvolveram a primeira caneta de adrenalina autoinjetável do País, um tratamento essencial para reações alérgicas graves, como o choque anafilático (anafilaxia). Atualmente, como não há um produto nacional à venda, é preciso importar as canetas a um alto custo ou substitui-las por alternativas menos eficazes. Sem os gastos de importação, os desenvolvedores esperam que a caneta nacional seja até 80% mais barata do que as trazidas de fora.

Primeiro autoinjetor de adrenalina foi lançado no mercado internacional em meados dos anos 80, mas até hoje não há uma opção nacional Foto: Andrey Popov/Adobe Stock

O protótipo foi fabricado por um grupo liderado pelo médico Renato Rozental, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com apoio de uma empresa paulista. A ferramenta está em trâmite inicial para ser registrada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e ainda precisará passar pela avaliação do órgão antes de chegar ao mercado. Segundo Rozental, a previsão é de que todo o processo leve cerca de 11 meses.

A caneta nacional segue o padrão dos produtos já comercializados, com uma ampola de adrenalina em dose ajustada para o peso do paciente. A agulha também varia de acordo com o público, existindo uma versão para crianças e outra para adultos.

Em caso de reação alérgica, basta aplicar o conteúdo na lateral da coxa — não é necessário ter treinamento médico ou qualquer capacitação específica. Uma vez injetada, a adrenalina reverte rapidamente a reação, dando tempo para a chegada de ajuda médica e para o atendimento especializado.

Rozental estima que o produto final custará ente R$ 350 e R$ 400. Já as canetas importadas — encontradas em algumas farmácias ou adquiridas diretamente do exterior — custam em média R$ 2 mil.

Anos de desinteresse

A tecnologia da caneta não é nova — o primeiro autoinjetor de adrenalina foi lançado no mercado internacional em meados dos anos 80. No entanto, como explica Fábio Chigres Kuschnir, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), a produção do item está concentrada em menos de 35 países.

Segundo Kuschnir, um dos motivos para essa concentração é o desinteresse das empresas fabricantes de medicamentos. “Até hoje, nenhum laboratório teve interesse nisso”, diz.

Ele e Rozental comentam que a maior visibilidade do tema e o aumento de casos de anafilaxia no mundo foram fatores que estimularam e permitiram a fabricação do protótipo nacional. Junto a isso, também têm sido criadas novas políticas públicas voltadas à questão. “De um ano para cá, tivemos um impulso muito grande”, afirma o presidente da Asbai.

Um exemplo é o Projeto de Lei 85/2024, em tramitação na Câmara dos Deputados, que estabelece o fornecimento gratuito da caneta de adrenalina autoinjetável pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O projeto já foi aprovado pela Comissão de Saúde e aguarda os pareceres das comissões de Finanças e Tributação, de Constituição e Justiça e de Cidadania. Para os médicos, a disponibilidade de uma caneta brasileira facilitaria essa distribuição na rede pública.

Aumento de casos

O choque anafilático é uma reação alérgica grave e súbita. Ele causa dificuldade respiratória, taquicardia e inchaço na garganta, e pode ser fatal.

O quadro acontece quando o corpo reage exageradamente a uma substância que considera uma ameaça e libera uma alta carga de histamina — que a adrenalina ajuda a controlar.

Segundo a Asbai, os casos de anafilaxia têm aumentando em crianças entre 0 a 4 anos e se assemelham ao nível observado nos Estados Unidos. Lá, os casos passaram de 5,7 para 11,7 a cada 10 mil atendimentos, considerando os anos de 2009 e 2013.

Além disso, conforme estudo publicado em 2022 na revista Clinical & Experimental Allergy, houve crescimento anual de 2,4% nas internações e de 3,8% nas mortes por anafilaxia entre 2011 e 2019 no Brasil.

As principais causas de choque anafilático são picadas de animais como abelhas e vespas, reação a medicamentos ou a alimentos. Mas há outros fatores, como exposição a novos alimentos e uma dieta cada vez mais industrializada.

Fonte: Externa

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