Interromper o sono durante a noite para urinar não é agradável, mas quando acontece mais de uma vez, também pode ser preocupante. Chamado de noctúria, esse geralmente é um sintoma de algum outro problema do organismo, como alterações na bexiga ou próstata, além de diabetes e outras mudanças metabólicas.
Em média, uma pessoa deve eliminar 70% de seu volume de urina diário durante o dia e 30% de noite. Ainda assim, a parcela noturna não deve ocorrer durante o sono. “O normal seria dormir em torno de seis ou sete horas sem precisar urinar, mas a gente considera que até uma vez seria normal”, explica o urologista Alexandre Fornari, coordenador do Departamento de Disfunção Miccional da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Passando disso, com dois ou mais xixis por noite, uma pessoa tem noctúria.
Vale lembrar que a condição não é um tipo de incontinência. Quem convive com a noctúria desperta e se levanta para urinar, diferentemente daqueles que possuem enurese noturna e acabam eliminando o xixi sem conseguir chegar ao banheiro. Justamente por isso, a noctúria tende a prejudicar a qualidade de vida das pessoas, que têm o sono interrompido e podem se sentir cansadas durante o dia. A condição também pode aumentar o risco de queda sobretudo entre a população idosa.
Por este motivo, o sintoma está associado ao aumento do risco de mortalidade. Segundo Fornari, pessoas que urinam mais à noite morrem mais e têm mais demência do que aquelas que não enfrentam esse problema. “A noctúria pode ser considerada, inclusive, um marcador de saúde, porque está relacionada ao comprometimento de várias áreas da vida”, diz.
Um sintoma, não uma doença
Como sintoma de alterações no organismo, a noctúria tem diversas causas. Em geral, especialistas dividem sua origem entre condições do trato urinário e alterações metabólicas.
No primeiro grupo, estão questões comuns, como problemas de próstata e o envelhecimento. Em idades mais avançadas, o rim passa a produzir mais urina, ao mesmo tempo em que a bexiga passa a armazenar menos, o que aumenta a quantidade de vezes que uma pessoa sente vontade de fazer xixi.
No segundo grupo, estão as causas metabólicas, que, de acordo com Fornari, são mais comuns que as do trato urinário em números absolutos. Entre elas, estão as seguintes condições:
- Apneia do sono;
- Diabetes;
- Insuficiência cardíaca;
- Uso de medicações diuréticas;
- Síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético (SIADH);
- Bexiga hiperativa;
- Infecção no trato urinário;
- Retenção de líquido nos membros inferiores;
- Ingestão de líquidos em excesso.
“Os idosos têm o envelhecimento do trato urinário e são mais afetados por doenças metabólicas, que aumentam com a idade. Então eles são os mais acometidos [pela noctúria]”, explica o urologista.
No Brasil, o sintoma atinge 27% dos homens com mais de 40 anos e 23% das mulheres na mesma faixa etária. Os dados são da pesquisa Brazil LUTS, único estudo sobre a prevalência de sintomas urinários na população brasileira.
O que fazer?
Se você tem noctúria, Fornari orienta buscar o atendimento de um urologista. Por meio do histórico relatado pelo paciente e por exames específicos, o profissional consegue rastrear outros sintomas e identificar a origem do incômodo.
O médico destaca que um exame importante nesse processo é o chamado diário miccional. “O paciente vai anotar tudo aquilo que beber de líquido, com o horário e a quantidade, e tudo o que ele urinar”, explica. Dessa forma, o urologista consegue saber se o paciente está urinando muitas vezes e se isso acontece durante o período da noite. A partir daí, o profissional consegue encaminhar o paciente para um especialista, que vai tratar a causa do sintoma.