Com a conquista de “A Sociedade da Neve”, escolhido como o melhor filme ibero-americano da temporada, a Espanha se igualou à Argentina, com três vitórias cada na história dos Prêmios Platino Xcaret. A entrega dos troféus, com peso de Oscar para a indústria audiovisual nos idiomas espanhol e português, foi realizada ontem à noite na Riviera Maya, na costa do Mar do Caribe, no México.
“A Sociedade da Neve”, a produção espanhola que liderava as indicações de cinema na premiação, concorrendo em sete categorias, levou seis estatuetas. Ao resgatar o pesadelo de sobrevivência do time uruguaio de rúgbi, após acidente aéreo na Cordilheira dos Andes, em 1972, a obra levou os Platinos de melhor filme, melhor diretor (o espanhol J.A. Bayona), melhor ator (Enzo Vogrincic), melhor montagem, melhor som e melhor direção de fotografia.
“Passei dez anos tentando fazer esse filme porque me diziam que uma produção desse porte (realizada com US$ 65 milhões) não era viável em espanhol e com atores desconhecidos. Mas foram 250 milhões de espectadores em todo o mundo”, contou J.A. Bayona, emocionado, no palco do Teatro Gran Tlachco del Parque Xcaret. “Isso prova que, às vezes, precisamos fazer de um modo diferente para mudar as regras do jogo”, completou o cineasta, de 48 anos, natural de Barcelona.
A consagração de “A Sociedade da Neve” era mesmo esperada. Bayona já tinha concorrido ao Oscar de melhor filme internacional, representando a Espanha, ao dar ênfase à trajetória dos que morreram na tragédia – sem os quais os 16 sobreviventes não teriam regressado para contar a história. Disponível atualmente no catálogo da Netflix, a produção figura no ranking dos filmes mais populares da plataforma de streaming. Nos “top ten” de língua não-inglesa, “A Sociedade da Neve” está na vice-liderança, somando 98,5 milhões de visualizações ao redor do mundo. Só perde para “O Troll da Montanha”, filme de monstro falado em norueguês, com 103 milhões de visualizações.
Este é o terceiro filme espanhol a sair como o grande vencedor na premiação, que chegou à 11ª edição e envolve a produção de cinema e TV de 23 países – com 11 deles com títulos selecionados este ano. Antes de “A Sociedade da Neve”, a Espanha se consagrou na 9ª edição com “O Bom Patrão”, sátira sobre a ética no trabalho dirigida de Fernando León de Aranoa, e com “Dor e Glória”, drama em que Pedro Almodóvar passou a limpo fantasmas de seu passado, na 7ª edição do Platino.
A Argentina conquistou o prêmio de melhor filme ibero-americano na edição passada, com “Argentina, 1985”, ao recapitular o julgamento e a condenação dos chefes da ditadura no país, 1976 e 1983. Dois outros títulos também levaram o país à vitória. Na 4ª edição, o troféu veio com “Cidadão Ilustre” (2016), de Gastón Duprat e Mariano Cohn, pela trama do escritor ganhador do Nobel de literatura que volta à cidade natal que tanto desdenha em seus livros. E na 2ª edição do Platino, o grande premiado foi “Relatos Selvagens”, em que Damián Szifrón apresentou uma radiografia dos ânimos exaltados da sociedade argentina, com inflação alta, desemprego e corrupção.
Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil não conseguiu marcar presença na premiação do Platino, sem indicados tanto na categoria de filmes quanto de TV. Inicialmente, filmes como “Pedágio”, “Mussum, o Filmis”, “Noites Alienígenas” e “Nosso Sonho – Uma História de Claudinho e Buchecha” foram pré-selecionados, mas não conseguiram figurar entre os finalistas.
No geral, o que se viu nesses 11 anos de Platino foi o domínio do idioma espanhol, com pouca participação do português – às vezes, com apresentação de artistas brasileiros na entrega das estatuetas. Quase não se ouve português na cerimônia de premiação, e não é difícil ouvir dos participantes de língua espanhola declarações de que os países do Platino falam o mesmo idioma. Quando isso acontece, a pessoa logo precisa se corrigir, acrescentando o português na fala.